domingo, 19 de agosto de 2018

eleições 2018: candidaturas, migrações e fragmentação

foi encerrado o prazo para candidaturas dos partidos, e com isso temos uma primeira amostra do que será a eleição esse ano. o fernando meireles destacou o salto de candidaturas que ocorreu no psl, ancoradas na candidatura a presidente do bolsonaro. inspirado por isso, montei o gráfico comparando as candidaturas por partido em 2014 e hoje:


(desde então, o resumo do tse foi atualizado, subindo de umas 24.500 candidaturas para 27.600. contudo, os resultados não mudam muito, é só imaginar tudo um pouco mais pra cima)

no gráfico, o principal destaque é que partidos grandes, como pt, mdb e psdb recuaram bem esse ano, enquanto alguns poucos partidos médios e pequenos aumentaram suas candidaturas. duas hipóteses surgiram para explicar esses movimentos: 1) maior seletividade dos partidos grandes, que precisam gerir melhor seus fundos partidários no novo cenário de financiamento, e 2) uma maior evasão dos partidos tradicionais pós-lava jato. o que se segue é uma análise mais detalhada da movimentação inspirada por essas hipóteses, e para ter uma primeira ideia de como ficará a câmara após as eleições. (obs: toda a análise abaixo é focada em deputados federais.)

primeiramente, a movimentação total, quebrada em 4 tipos: saída da disputa (que inclui quem passou a disputar outros cargos, como deputado estadual, governador etc.), emigrações/imigrações partidárias, e novos entrantes. abaixo ela está tanto em número de candidaturas quanto em contribuições percentuais de cada movimentação para a variação total (color-coded para facilitar a análise):








a primeira coisa que salta aos olhos é a altíssima rotatividade de candidatos, com quase 90% saindo de uma eleição para outra. se você suspeita que isso tem a ver com desempenho nas urnas e com vantagem dos eleitos, parabéns, é isso mesmo:




voltando à tabela, algumas conclusões:
  • a contribuição % de saída dos partidos não varia tanto, sendo os novos entrantes os responsáveis pelas diferenças;
  • a falta de atração dos partidos tradicionais é o que determina suas quedas;
  • como já era esperado, o centrão vem ganhando mais corpo;
  • há um claro efeito bandwagon de candidatos presidenciais, tanto no psb em queda pós-2014 (eduardo campos), quanto na ascensão do psl (bolsonaro) e do podemos (alvaro dias) 
em resumo, a variação de candidaturas totais está muito mais ditada por novos entrantes do que por saídas ou migrações. contudo, o mais provável é que esses 7.000 novos entrantes tenham resultado parecido a seus antecessores que saíram. é mais interessante ver os resultados para quem continuou na disputa, pois 1) são candidatos mais competitivos e 2) isso permite analisar melhor as migrações interpartidárias. nesse caso, temos o seguinte cenário:




 (é, eu sei, os números não batem. usei o nome como referência para o cruzamento, dado que a base do tse com o cpf ainda não saiu, e candidatos homônimos acabam classificados de forma errada)

os números dos candidatos recorrentes mostram mais detalhes interessantes:
  • ao contrário do que parecia inicialmente, eles também apresentam alta rotatividade;
  • a emigração indica uma maior fidelidade partidária nos grandes partidos, ao contrário do que se supunha (pequenos partidos da esquerda também apresentam isso, vale notar);
  • é na atração de candidatos recorrentes que os grandes partidos ficaram para trás. eles não entram no churn do centrão, mas também nada ganham dele;
  • se a guinada pró-bolsonaro do psl trouxe muitos candidatos novos para o partido, também é verdade que teve um custo ao esvaziar as suas candidaturas já estabelecidas. com uma taxa de saída de 83%, foi a terceira maior evasão de todas. 
finalmente, com essas informações de migrações partidárias, podemos fazer um exercício. se todos os candidatos levassem consigo seus votos, como ficaria a composição partidária? ao todo, eles tiveram 49 milhões de votos, representando 55% do total de votações para candidatos (isso é, não contando votos para partido), de modo que o desempenho deles é informativo sobre tendências gerais. eis:



  • o centrão é o claro vencedor: dem, pp e pr crescem 5 pontos na simulação;
  • o psb é um dos poucos partidos de esquerda/centro-esquerda que não ganhou espaço com a queda do pt, refletindo de novo o esvaziamento por ausência de candidato presidencial (1.1 pp da queda foi no estado do pernambuco);
  • vem mais fragmentação por aí: se esses percentuais refletissem o voto total, o número efetivo de partidos subiria de 13.4 nas últimas eleições para 14.4 este ano. contrabalançando isso existe a claúsula de barreira: se assumirmos a hipótese extrema de que os partidos sem fundo partidário são incorporados a outros (seja por migração, incorporação ou fechamento), esse número caíria para 12.1. resta a ver qual vai ser a estratégia desses partidos após as eleições.